“Quando você faz o que gosta, dá para arrumar o que comer”

Por Gustavo Cabrera – comunicador do CNMP Para chegar ao sítio de Seu Júlio é necessário adentrar-se na Mata do Ronca, em Paulista. Uns vinte minutos de carro por uma estrada toda esburacada (chamada pelos moradores da região como estrada tobogão) convertem a viagem em uma aventura. Além da mata, sítios, parques de lazer e clubes conformam a paisagem do caminho. A visita ao sítio do agricultor Seu Júlio foi na terça-feira 17 de novembro e contou com a presença de vários multiplicadores e lideranças de Segurança Alimentar e Nutricional que vem se formando com o Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP). Também estava presente a equipe do CNMP e Annete Roensch da Misereor, organização que financia parte das atividades da ONG. Depois de recorrer a terra de Seu Júlio compartilhamos algumas palavras sobre as dificuldades para a agricultura familiar. Desde alguns simples problemas como a falta de dinheiro e transporte para conseguir estrumo até a situação das estradas na região e o papel da prefeitura de Paulista. Para trabalhar a terra é necessário gostar do trabalho porque ser agricultor é muito sacrificado. “Quando você faz o que gosta, dá para arrumar o que comer -afirmou Seu Júlio. Quando você faz o que não gosta normalmente não consegue. Então é isso, a agricultura é sofrimento, é fome, é sede, ela doe na pele e é tachado de pobre e ignorante. O pior de todo é isso.” A maioria das pessoas que moram nessa região não são agricultores. “Eles vieram da área urbana com a intenção de ficar ricos, nunca trabalharam em agricultura. Quando eles viram que de fato não dá nem para arrumar o que comer, eles passaram a vender ou ter animais. Assim, tem muita área que é área de lazer, e senão é área de lazer o pessoal varre, tiras todas as folhas. Infelizmente a cultura deles não é a cultura de agricultor. Eles tiram todas as folhas e toca fogo e isso vá acabando com o solo.” Como espelho desta situação, o mercado de Paulista quase não tem alimentos produzidos no município. As frutas e verduras em sua maioria são produzidas em Vitória de Santo Antão e Glória de Goitá. O caminho ao sítio estava em melhores condições que em outras ocasiões. Isso, devido a que o pessoal da área organizou-se para consertar as ruas, fazendo uma quota que saiu de seu bolso. Porém, “a prefeitura não ajuda a gente nem nas estradas”, protesta Seu Júlio. O prefeito de Paulista visitou no dia 5 de novembro o sítio de Seu Júlio e comprometeu-se a melhorar a estrada sem muitas demoras. Outra das dificuldades assinaladas é o alto custo para conseguir a certificação de produção orgânica. “…é um processo muito caro… tinha que inscrever meu sítio num projeto do Sabiá que é uma instituição que faz isso, tinha que passar aproximadamente cinco anos eles me acompanhando aqui para poder me dar o documento ou aval. Cada visita aqui, por pessoa, era de 300 reais. Então a gente não tem como fazer isso. Se a gente conseguisse certificar era evidente que a gente ia a conseguir vender com os outros lá na feira.” O pouco assessoramento técnico (só um técnico do IPA para Olinda e Paulista), e a falta de incentivos e empréstimos para a produção de alimentos completam o difícil panorama para a Agricultura Familiar em Paulista. Antes do meio dia o pessoal foi embora. Limas, pitangas, sementes de milho crioulo, sabedoria, sacrifício e luta encheram os bolsos e corações de cada uma das pessoas que visitaram o Sítio do Ronca.  

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