Sementes crioulas representam autonomia e liberdade para famílias agricultoras

Por Helena Dias

 

No último final de semana, o programa Agricultura Familiar em Debate abordou o tema da importância das casas de sementes comunitárias para a qualidade da produção das famílias agricultoras. O CAATINGA conversou com trabalhadoras e trabalhadores rurais que contaram um pouco sobre as suas experiências com o cuidado das sementes crioulas, que representam não só a possibilidade de um bom plantio mas também a preservação da história e ancestralidade das comunidades.

 

Um dos relatos veio da agricultora e membra do banco de sementes da comunidade de Passagem das Pedras, em Ouricuri,  Maria de Augustinha. Ela conta que o banco de sementes local tem 22 pessoas associadas, mas o público que é atendido por ele vai bem mais além. Qualquer agricultor ou agricultora pode usufruir do compartilhamento de sementes crioulas desde que respeite critérios como a entrega de 50% da quantidade de sementes que utilizou por meio do banco. “Se um agricultor recebe 5 Kg de sementes, ele paga 10 Kg”, explica Maria.

 

“É muito difícil aquele que vem pagando 50%, eles sempre trazem mais do que cinquenta e uma coisa que a gente viu nesse ano é que esse banco de sementes veio para atender a comunidade das Pedras mas também as comunidades vizinhas. A gente percebeu que aqui na região conseguiram plantar muito milho e milho de qualidade. Quem pegou as sementes do banco teve um rendimento muito bom”, afirma.

Para a assentada da reforma agrária e membra da coordenação do Polo da Borborema (PB), Roselita Victor, as sementes crioulas são “sinônimo de autonomia e liberdade” e uma riqueza que “vem junto a sabedoria da agricultura familiar camponesa da e da agroecologia que é a gente construir sinais de esperança”. Ela ressalta que na região do polo há uma campanha chamada “Não planto transgênico para não apagar a minha história”, que traz em seu nome a principal definição para os bancos de sementes comunitárias.

 

“É muito ruim quando uma família agricultora não tem suas sementes para plantar e fica dependendo de comprar no mercado ou das políticas públicas que não chegam na hora ou quando recebe são sementes diferentes daquelas que plantamos e colhemos, que sabemos todas as suas características”, explica Roselita.

 

No mesmo passo, o coordenador geral do Centro Sabiá e da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), Alexandre Pires, fala sobre o cuidado com as sementes crioulas nos processos de convivência com o semiárido, ele lembra que é uma prática realizada por famílias agricultoras há muito tempo. “A gente sabe que os agricultores e as agricultoras durante muito tempo, de gerações passadas até as gerações atuais têm uma prática muito importante que é a do armazenamento de sementes de milho, feijão, fava, gergelim, jerimum e de tantas outras culturas que fazem parte da atividade agrícola e da cultura alimentar do nosso povo do semiárido”.


Ele explica que as sementes vão sendo melhoradas e escolhidas para que as melhores espigas e vagens, por exemplo, sejam guardadas e replantadas pelas famílias.

 

Confira o programa Agricultura Familiar em Debate veiculado nos dias 30 e 31 de janeiro: https://bit.ly/progcaatinga31012021

 

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